quinta-feira, 31 de março de 2016

Mulheres do Morro: Larissa Nascimento


Fechamos o especial "Mulheres do Morro" com a professora de karatê  Larissa do Nascimento Araújo. Larissa tem apenas 16 anos e estuda o 9º ano na escola Alberto Torres, mas já tem uma consciência social e desenvolve, gratuitamente na comunidade, a formação de jovens e crianças através do Karatê. 


JFML: Quando você despertou o desejo de praticar o karatê?
Larissa: Aos 11 anos, quando ainda estudava na Escola Selva Capistrano Lopes, foi lá que comecei a fazer karatê com o professor Thiago Lima, que me acompanha até hoje. Gostava de jogar bola e surfar, mas foi praticando o karatê que despertei o gosto pelo esporte.

JFML: Então o professor Thiago Lima foi seu grande incentivador?
Larissa: Sim. Primeiro na Selva Lopes, depois quando o grupo foi para a Associação “Amigos do Coração”, nas turmas que damos aulas na Casa Crescer e também nas competições.

JFML: Fale um pouco sobre a modalidade?
Larissa: No karatê temos alguns lemas que nos orientam. A formação do caráter da pessoa, desenvolvido pela educação recebida dos pais, professores e pela cultura de nosso povo. O respeito a bons princípios. O esforço em transpor obstáculos, em conquistar algo se esforçando, lutando com garra e tendo mérito para isso. Conter o espírito de agressão, sabendo usar o que sabe para o bem, mantendo o respeito a cima de tudo.


JFML: Nessa caminhada quando foi que você resolveu ser professora e atuar na comunidade?
Larissa: A partir do momento que eu decidi seguir os mesmos passos do meu professor. Então, quando eu conquistei a faixa rocha ele me disse “Larissa você está pronta”, e a partir daí comecei a ser responsável pela turma dos menores.

JFML: E como funciona a “escolinha de karatê”?
Larissa: Damos aulas para crianças e adultos. Eu fico responsável pela turma das crianças e o professor Thiago pelos adultos. É um trabalho onde devolvemos à comunidade tudo que aprendemos e sabemos, é voluntário e quem quiser pode participar não paga nada. 


 JFML: Você acha que dentre os seus alunos há algum com o potencial de dar continuidade a esse projeto e dar aulas assim como vocês?
Larissa: Com certeza, nos deixamos bem claro a filosofia do Karatê. Acho sim, que muitos deles podem se interessar, assim como eu, em devolver à comunidade o que receberam. Mas existem dois pensamentos, aqueles que pensam em ser atletas e aqueles que querem sim ser professor.

JFML: E os campeonatos de Karatê?
Larissa: Participo de vários junto com toda a equipe da nossa turma. Um que me marcou muito foi o Brasileiro de Karatê Interestilos, que aconteceu no ano de 2013 em Fortaleza. Nessa competição eu estava na faixa laranja e conquistei o terceiro lugar frente a competidores de todo o Brasil.

JFML: Como você vê o desenvolvimento do esporte em Mãe Luiza?
Larissa: Hoje em dia observo que existem muitos lugares na comunidade onde é possível praticar esporte, basta o jovem querer. Temos karatê, futebol, vôlei, ginástica, surf e outros que estão fazendo a diferença no bairro. O Ginásio Arena do Morro, por exemplo, é um grande espaço onde estão sendo desenvolvidas várias modalidades.

 
JFML: E você acredita no esporte como algo que muda vidas?
Larissa: Sem dúvida alguma. Hoje, tudo que eu sou devo a minha família, claro, e ao esporte. Praticar uma modalidade esportiva, aprender princípios, conviver com as regras e em grupo desenvolve o corpo e a mente. Acredito que o esporte salva vidas.

As aulas de karatê acontecem na Casa Crescer à noite, às terças e quintas-feiras, das 19h às 20h para crianças e jovens, e das 20h às 21h para adultos. A participação é gratuita.

terça-feira, 22 de março de 2016

Grupo do Urban Sketchers no Arena do Morro

No último sábado, 19, um grupo do Urban Sketchers (UsK),  comunidade de correspondentes que reúne pessoas do mundo todo, interessadas em produzir e compartilhar seus desenhos de locação, esteve no Ginásio Arena do Morro fazendo registros à mão livre da bela arquitetura do local. O grupo se utiliza do desenho de observação à mão livre como forma de expressão artística.

Confira alguns trabalhos:

 Equipe que participou do encontro


O Urban Sketchers é uma comunidade de correspondentes que reúne pessoas do mundo todo, interessadas em produzir e compartilhar seus desenhos de locação. Essa comunidade global inclui pintores, arquitetos, jornalistas, publicitários, ilustradores, designers e educadores, que publicam mais que apenas desenhos na web, compartilhando também a narrativa e as circunstâncias em que esses desenhos foram feitos.
Missão:
Incrementar os valores documental, educacional e artístico, do desenho de locação, promovendo sua prática e conectando pessoas ao redor do mundo que desenham em suas cidades e em suas viagens.
Saiba mais acesse:  http://brasil.urbansketchers.org/

segunda-feira, 21 de março de 2016

Mulheres do Morro: Loyse Raboud



Nossa segunda entrevistada para o especial "Mulheres do Morro" é Loyse Raboud, responsável pelo Centro de Longa Permanência Espaço Solidário. Loyse atua no bairro há mais de 25 anos, foi membro do grupo "Amigos da comunidade" que combateu a desnutrição em Mãe Luiza, em momento crítico de nossa história, encerrada essa demanda passou a atuar na questão do idoso. Cidadã natalense, ela nos fala um pouco sobre o envelhecer como um todo fazendo um recorte mais amplo em relação ao "envelhecer da mulher".

JFML: Quando você começou a desenvolver o trabalho junto aos idosos do bairro?
Loyse: Quando enveredei pelo caminho da Assistência Social o objetivo sempre foi trabalhar com pessoas em situação de risco em geral. Mas o trabalho com os idosos veio se impondo como uma demanda no sentido de participar de um projeto que pudesse acolher e dá suporte a essa população mais frágil. Isso aconteceu com a criação do Espaço Solidário bem no início dos anos 2000.

JFML: Como você vê no dia-a-dia o envelhecer da mulher?
Loyse: Posso dizer que existem vários “envelhecer”, não existe um envelhecer específico. A gente poderia, por exemplo, afirmar que o envelhecer, dentro do perfil de idosos que acolhemos, contém a vida passada inteira. É um envelhecer que muitas vezes é sofrido, porque a vida também o foi. Muitas têm família, mas a família não tem condições de dar assistência devido ao grau de dependência. Outros não criaram laços suficientemente fortes com seus filhos, então os filhos não se sentem na obrigação de cuidar deles também. E tem aqueles idoso que escolheram vir para o Espaço, porque querem um lugar seguro e longe mesmo das pressões de casa. Enfim, dentro desse cenário, caricaturando um pouco eu diria que a mulher tem mais facilidade de envelhecer do que o homem, a gente sente isso.


JFML: Por que isso acontece?
Loyse: A mulher tem um leque de resiliência mais amplo. Acredito que tenha a ver com a diversidade de funções que ela desempenhou ao longo da vida, ou seja, mesmo quando ela perde uma função, não é uma perda total, pois ela tem outras atribuições que lhe dão sentido e compensa esse vazio. Já o homem enxerga a perda da autonomia como uma perda total, a gente escuta muito eles afirmando que com isso “deixam de ser homens”, já a mulher é mais flexível nesse ponto.

JFML: E como é esse envelhecer no âmbito da saúde física?
Loyse: Como nós atendemos idosos em situação de risco, obviamente muitos deles já trazem um histórico de doenças que comprometeram a saúde física e motora. Eu não sei se a mulher se cuida mais ao longo da vida, no caso de nossos idosos eu não vejo muito isso não. Mas observo que elas têm mais atenção quanto ao cumprimento dos horários para tomar a medicação. Acredito que, como muitas delas cuidavam dos filhos, de si e do próprio marido, elas gerenciam melhor esse quesito. Aqui, por exemplo, a mulher vive mais que o homem.



JFML: Você é suíça. Que paralelo podemos traçar entre viver a velhice na Europa e aqui no Brasil?
Loyse: Na Suíça a velhice é vivida de forma muito independente, é cultural. Lá, há um forte apoio através de políticas públicas que dão suporte ao idoso. Já no Brasil não existe nenhuma política de apoio ao idoso. O que existe são as instituições de cunho privado e filantrópico, como a nossa, que sobrevivem com muita luta e sacrifício e que não dão conta da alta demanda do envelhecimento atual. É preciso dar voz ao idoso e condições de independência.

JFML: Já que você falou em voz, os idosos têm participação ativa nas discussões do Espaço?
Loyse: Nosso trabalho é justamente esse, fazer com que o idoso mesmo com toda dificuldade cognitiva possa se sentir participativo e cidadão. Para isso existem diversas reuniões onde partilhamos vivências cotidianas, desejos, escolhas. E nesse momento a mulher é muito mais participativa que o homem, eles ainda são muito tímidos em relação a esses momentos, mas do seu jeito participam.

JFML: E você como mulher, mãe e assistente social pensa a sua própria velhice?
Loyse: Espero ter minha independência aliada a convivência com a família. Acredito que esse equilíbrio é fundamental. Sem dúvidas, as experiências que vivencio convivendo no dia-a-dia com os idosos irão me ajudar a viver melhor esse momento. Aliás, essa é uma convivência que recomendo a todos: participem da vida dos idosos que estão próximos a vocês.


O Espaço Solidário acolhe idosos em situação de vulnerabilidade, que queiram morar ou simplesmente passar o dia na companhia de outros, proporcionando-lhes bem estar e participação, em condição de liberdade e dignidade. Localizado em Mãe Luiza de responsabilidade do Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição.
Telefones: (084) 4141.7407 / 9928.1255 Contato: espsolidario@gmail.com

terça-feira, 15 de março de 2016

Mulheres do Morro: Nalva Martins



Para abrir o nosso especial “Mulheres do Morro” convidamos Nalva Martins da Costa, coordenadora dos Clubes de Aventureiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia da 1ª Região (Mãe Luiza, Rocas, Centro, Nova Descoberta, Bom Pastor e Alecrim). Grande militante no âmbito da “criança-adolescente”, mãe de dois filhos, sua história de vida e ação é mais que pertinente para inaugurar essa grande homenagem as guerreiras de nossa comunidade.

Jornal Fala Mãe Luiza: Quando sua história encontra a de Mãe Luiza?
Nalva: Quando tinha seis anos, já faz um tempinho né. Saímos da Cidade da Esperança para cá quando meu pai comprou uma casa na rua Atalaia e trouxe a família para morar aqui no bairro. Minha infância e adolescência foi toda aqui na comunidade, só saí quando me casei para morar no Rio de Janeiro. Morei 15 anos lá e tive minha filha mais velha. Depois retornei, na verdade sempre me senti parte dessa comunidade.


JFML: A Igreja Adventista é a grande ponte entre você e o trabalho junto a crianças e jovens. Quando você despertou o desejo de conversão?
Nalva: Foi através de meu filho, Nalbert. Na época ele tinha cinco anos e ao visitar uma igreja, que não era Adventista, alguém falou sobre a volta de Jesus e para se preparar que ele estava voltando. Então, Nalbert chegou em casa muito preocupado, até chorando, dizendo que a gente tinha que se preparar que Jesus ia voltar e ele queria morar no céu e não queria que eu ficasse. Daí despertou em mim essa curiosidade, até então eu era uma católica não praticante, nunca tinha lido a bíblia, e quando um grupo de evangélicos passou na rua onde moro eu os chamei e perguntei se essa história de que Jesus ia voltar era verdade. Eles confirmaram, e eu pedi logo um estudo bíblico. A partir daí eu vi que o que tem na bíblia é verdadeiro e pude ler com meus próprios olhos que Jesus estava voltando. A partir daí aceitei Jesus, me batizei, minha filha Monique também e em seguida Nalbert. Me tornar adventista foi um momento de conversão na minha vida, já fazem dez anos que aceitei e acredito na volta de Jesus.


JFML: Dentro dessa caminhada quando surge a oportunidade de coordenar o Clube de Aventureiros?
Nalva: A igreja Adventista é muito organizada, lá se tem atividades para as crianças desde o berço até a adolescência, onde a gente trabalha a área física, brincar, pular e correr, saúde mental e espiritual. Eu coordeno o Clube de Aventureiros, que acolhe as crianças 6 a 9 anos fico com os menores. Quando a criança completa 10 anos vai para os desbravadores que são de 10 a 15 anos. Por exemplo, meu filho, Nalbert, começou como “Aventureiro”, hoje é um “Desbravador”, mais uma vez foi através dele que me interessei pelo clube, estudei me aprofundei no serviço e fui crescendo até ser convidada a coordenar a 1ª região.


JFML: Como vocês buscam transformar a vida dessas crianças através do clube?
Nalva: O Clube de Aventureiros funciona em cima de um tripé: igreja, família e escola. Até porque é preciso esse aparato, a criança é pequena e precisa do acompanhamento de um responsável para ir ao culto ou ao clube. A gente observa o que se passa na vida da criança, na escola e na família, e tenta intervir se necessário sempre em cima da evangelização. Além de todo trabalho e acompanhamento realizado nos encontros, temos também a Rede Familiar de Aventureiros - RFA – composta por pessoas voluntárias, preparadas, que geralmente são psicólogos ou assistentes sociais, que trabalham mais a fundo as questões mais complexas.
Por exemplo, teve um caso de uma criança de 6 anos que acompanhamos, que era maltratada pelos pais. Entramos em ação acionando o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA - intervimos para resolver a situação. A jovem hoje tem 15 anos, a mãe aceitou Jesus e parou de beber. Então o nosso trabalho é esse levar a apalavra de forma completa, e muitas vezes através da criança transformar o seu entorno.


JFML: Teve algum caso difícil de ajudar, de transformar a situação?
Nalva: Claro. Nós temos um limite, então primeiramente a gente hora a Deus para que ele possa nos usar, que possamos levar a palavra certa de conforto para aquela família. Eu como coordenadora, não acompanho diretamente, mas já me foi relatado alguns casos. Aqui mesmo no bairro, já houve casos de jovens que foram dos clubes na infância e na juventude, mas se envolveram com o crime e acabaram sendo mortos. É uma batalha muito grande, o mundo oferece muita ilusão e temos que ser muito firmes na fé, daí a importância do abraço da família.



JFML: Como você enxerga, de uma forma mais ampla, geral, a situação dos jovens no bairro?
Nalva: Encaro com muita preocupação, porque a gente percebe uma grande falta de estrutura nas escolas do bairro. O desemprego também está grande, e tudo isso reflete na vida dos jovens que ficam à mercê de situações de risco. As igrejas fazem sua parte, mas o poder público precisa fazer mais do que está fazendo por esses jovens. Agora por exemplo as escolas municipais estão em greve. O que é que estas crianças estão fazendo nesse tempo? Quem tem uma estrutura boa pode estar estudando em casa. Mas quem não tem? Então, isso preocupa muita.


JFML: Para finalizar. Como é ser mulher em Mãe Luiza?
Nalva: É ser uma batalhadora, uma guerreira e vencedora. Eu por exemplo sou uma mulher divorciada, mãe de dois filhos, adventista, sempre morei aqui e minha postura de vida fez com que nunca fosse desrespeitada e vivesse na graça de Deus muito bem. Criei minha filha aqui também, hoje casada, crio o Nalbert e sou aquele tipo de mãe leoa. Resolvi me doar totalmente a criação de meus filhos e vejo que tudo valeu e vale a pena. Me vejo muito como mulher-mãe e procuro mostrar o caminho da salvação para os meus filhos, tanto aqui na terra como no céu.


SERVIÇO: As mães e os pais responsáveis por qualquer criança, de 6 a 9 anos para os Aventureiros, e de 10 a 15 anos para os Desbravadores, que se interessaram em fazer parte dos clubes, procure a direção da igreja Adventista na rua João XXIII, 502, próximo ao Posto de Saúde da comunidade, nos dias de culto, quarta-feira às 19h, sábado de 9h as 12h e no domingo às 19h30.