segunda-feira, 21 de março de 2016

Mulheres do Morro: Loyse Raboud



Nossa segunda entrevistada para o especial "Mulheres do Morro" é Loyse Raboud, responsável pelo Centro de Longa Permanência Espaço Solidário. Loyse atua no bairro há mais de 25 anos, foi membro do grupo "Amigos da comunidade" que combateu a desnutrição em Mãe Luiza, em momento crítico de nossa história, encerrada essa demanda passou a atuar na questão do idoso. Cidadã natalense, ela nos fala um pouco sobre o envelhecer como um todo fazendo um recorte mais amplo em relação ao "envelhecer da mulher".

JFML: Quando você começou a desenvolver o trabalho junto aos idosos do bairro?
Loyse: Quando enveredei pelo caminho da Assistência Social o objetivo sempre foi trabalhar com pessoas em situação de risco em geral. Mas o trabalho com os idosos veio se impondo como uma demanda no sentido de participar de um projeto que pudesse acolher e dá suporte a essa população mais frágil. Isso aconteceu com a criação do Espaço Solidário bem no início dos anos 2000.

JFML: Como você vê no dia-a-dia o envelhecer da mulher?
Loyse: Posso dizer que existem vários “envelhecer”, não existe um envelhecer específico. A gente poderia, por exemplo, afirmar que o envelhecer, dentro do perfil de idosos que acolhemos, contém a vida passada inteira. É um envelhecer que muitas vezes é sofrido, porque a vida também o foi. Muitas têm família, mas a família não tem condições de dar assistência devido ao grau de dependência. Outros não criaram laços suficientemente fortes com seus filhos, então os filhos não se sentem na obrigação de cuidar deles também. E tem aqueles idoso que escolheram vir para o Espaço, porque querem um lugar seguro e longe mesmo das pressões de casa. Enfim, dentro desse cenário, caricaturando um pouco eu diria que a mulher tem mais facilidade de envelhecer do que o homem, a gente sente isso.


JFML: Por que isso acontece?
Loyse: A mulher tem um leque de resiliência mais amplo. Acredito que tenha a ver com a diversidade de funções que ela desempenhou ao longo da vida, ou seja, mesmo quando ela perde uma função, não é uma perda total, pois ela tem outras atribuições que lhe dão sentido e compensa esse vazio. Já o homem enxerga a perda da autonomia como uma perda total, a gente escuta muito eles afirmando que com isso “deixam de ser homens”, já a mulher é mais flexível nesse ponto.

JFML: E como é esse envelhecer no âmbito da saúde física?
Loyse: Como nós atendemos idosos em situação de risco, obviamente muitos deles já trazem um histórico de doenças que comprometeram a saúde física e motora. Eu não sei se a mulher se cuida mais ao longo da vida, no caso de nossos idosos eu não vejo muito isso não. Mas observo que elas têm mais atenção quanto ao cumprimento dos horários para tomar a medicação. Acredito que, como muitas delas cuidavam dos filhos, de si e do próprio marido, elas gerenciam melhor esse quesito. Aqui, por exemplo, a mulher vive mais que o homem.



JFML: Você é suíça. Que paralelo podemos traçar entre viver a velhice na Europa e aqui no Brasil?
Loyse: Na Suíça a velhice é vivida de forma muito independente, é cultural. Lá, há um forte apoio através de políticas públicas que dão suporte ao idoso. Já no Brasil não existe nenhuma política de apoio ao idoso. O que existe são as instituições de cunho privado e filantrópico, como a nossa, que sobrevivem com muita luta e sacrifício e que não dão conta da alta demanda do envelhecimento atual. É preciso dar voz ao idoso e condições de independência.

JFML: Já que você falou em voz, os idosos têm participação ativa nas discussões do Espaço?
Loyse: Nosso trabalho é justamente esse, fazer com que o idoso mesmo com toda dificuldade cognitiva possa se sentir participativo e cidadão. Para isso existem diversas reuniões onde partilhamos vivências cotidianas, desejos, escolhas. E nesse momento a mulher é muito mais participativa que o homem, eles ainda são muito tímidos em relação a esses momentos, mas do seu jeito participam.

JFML: E você como mulher, mãe e assistente social pensa a sua própria velhice?
Loyse: Espero ter minha independência aliada a convivência com a família. Acredito que esse equilíbrio é fundamental. Sem dúvidas, as experiências que vivencio convivendo no dia-a-dia com os idosos irão me ajudar a viver melhor esse momento. Aliás, essa é uma convivência que recomendo a todos: participem da vida dos idosos que estão próximos a vocês.


O Espaço Solidário acolhe idosos em situação de vulnerabilidade, que queiram morar ou simplesmente passar o dia na companhia de outros, proporcionando-lhes bem estar e participação, em condição de liberdade e dignidade. Localizado em Mãe Luiza de responsabilidade do Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição.
Telefones: (084) 4141.7407 / 9928.1255 Contato: espsolidario@gmail.com

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