Por Ion de Andrade
Os homicídios caíram em Mãe Luiza no ano subsequente à inauguração do
Ginásio Arena do Morro numa proporção quatro vezes superior ao que
ocorreu no restante da capital e no restante do RN.
Mais que isso, responsável por 38,5% dos homicídios da Zona Leste em
2013, Mãe Luiza responde hoje por 18,7% do total, uma redução de cerca
de 49% do seu peso relativo na sua região.
Foto: Verner Monteiro
Epidemiologista que sou, apliquei o teste estatístico específico para
essas associações, o teste do qui quadrado. O teste revelou e estabeleceu significância estatística suficientes para demonstrar que a
alteração dos números de Mãe Luiza não foi casual, mas decorreu da
influência real de alguma variável.
Foto: Verner Monteiro
Como disse o presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, o
dr. Marcos Dionísio, outras influências podem ter tido papel, mas a
hipótese de que a causa tenha sido a Arena do Morro se torna provável.
A série de meses que precedem a inauguração do ginásio (janeiro de
2013 a abril de 2014) tem frequência de homicídios de 1,5 casos por mês.
Os que sucedem (maio de 2014 a outubro de 2015) alcançam 0,9. No pós
ginásio seis meses não registraram homicídios. Na série anterior, nenhum
mês deixou de registrar ao menos um assassinato.
Foto: Verner Monteiro
Mais do que os números frios dessa carnificina vale registrar que
tais resultados estão conectados à presença de um equipamento social de
primeira grandeza que hoje, sob gestão compartilhada, funciona nos três
expedientes do dia e de domingo a domingo.
Centenas de jovens se beneficiam das atividades do ginásio toda
semana. E a Comunidade se prepara para dar início às atividades
culturais nas salas multiuso Ginásio.
Foto: Verner Monteiro
A existência da obra fez perceber à direção do Centro Sócio Pastoral
Nossa Senhora da Conceição a sua importância transcendental. Tinha que
compartilhar essa grande exceção com as demais comunidades pobres de
Natal para que se tornasse regra, mais que isso, constatou que a
experiência era importante e crucial para o Brasil como um todo.
Essa é a história da Carta de Natal.
A tentativa de tornar regra uma exceção e de seguir viagem no processo
de emancipação do nosso povo ampliando o papel do Estado nas periferias,
que está restrito à Escola, à Creche, à Unidade de Saúde, à Delegacia
de Polícia e a NADA mais.
Comunidade e movimentos sociais de natal discutindo A Carta de Natal
Realizada em março desse ano a Carta de Natal apontava para a necessidade de uma virada nos investimentos públicos que deveriam privilegiar os mais vulneráveis.
Não creio em coincidências, mas em sincronicidade. Penso que nos movíamos na Carta
para algo maior que não sabíamos. De fato teremos que rediscutir os
rumos e o que fazer com os cerca de 300 milhões de reais destinados à
Roberto Freire.
O sucesso da experiência de Mãe Luiza, os números da violência e a Carta de Natal apontam um caminho: é melhor construir 100 obras de 3 milhões do que uma obra de 300 milhões.
Foto: Verner Monteiro
Essa é a discussão do momento, é a luta do momento e ela é
estratégica. Se conseguirmos em Natal inverter essa lógica nefasta de
investir muito em obras faraônicas e construirmos uma robusta
infraestrutura de equipamentos sociais que dignifiquem a vida da
população seremos o modelo para aquele Brasil que sonha com inclusão,
justiça social e dignidade.
A cidade não pode perder essa oportunidade.
As fotos do arquiteto Verner Monteiro que, valem mais do que mil palavras, ajudam a entender porque as
coisas podem mudar.
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