segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Ginásio Arena do Morro derruba os números da violência em Mãe Luiza

Por Ion de Andrade
Os homicídios caíram em Mãe Luiza no ano subsequente à inauguração do Ginásio Arena do Morro numa proporção quatro vezes superior ao que ocorreu no restante da capital e no restante do RN.
Mais que isso, responsável por 38,5% dos homicídios da Zona Leste em 2013, Mãe Luiza responde hoje por 18,7% do total, uma redução de cerca de 49% do seu peso relativo na sua região.

 Foto: Verner Monteiro

Epidemiologista que sou, apliquei o teste estatístico específico para essas associações, o teste do qui quadrado. O teste revelou e estabeleceu significância estatística suficientes para demonstrar que a alteração dos números de Mãe Luiza não foi casual, mas decorreu da influência real de alguma variável.
Foto: Verner Monteiro

Como disse o presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, o dr. Marcos Dionísio, outras influências podem ter tido papel, mas a hipótese de que a causa tenha sido a Arena do Morro se torna provável.
A série de meses que precedem a inauguração do ginásio (janeiro de 2013 a abril de 2014) tem frequência de homicídios de 1,5 casos por mês. Os que sucedem (maio de 2014 a outubro de 2015) alcançam 0,9. No pós ginásio seis meses não registraram homicídios. Na série anterior, nenhum mês deixou de registrar ao menos um assassinato.

 Foto: Verner Monteiro

Mais do que os números frios dessa carnificina vale registrar que tais resultados estão conectados à presença de um equipamento social de primeira grandeza que hoje,  sob gestão compartilhada, funciona nos três expedientes do dia e de domingo a domingo.
Centenas de jovens se beneficiam das atividades do ginásio toda semana. E a Comunidade se prepara para dar início às atividades culturais nas salas multiuso Ginásio.

Foto: Verner Monteiro

A existência da obra fez perceber à direção do Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição a sua importância transcendental. Tinha que compartilhar essa grande exceção com as demais comunidades pobres de Natal para que se tornasse regra, mais que isso, constatou que a experiência era importante e crucial para o Brasil como um todo.
Essa é a história da Carta de Natal. A tentativa de tornar regra uma exceção e de seguir viagem no processo de emancipação do nosso povo ampliando o papel do Estado nas periferias, que está restrito à Escola, à Creche, à Unidade de Saúde, à Delegacia de Polícia e a NADA mais.

 Comunidade e movimentos sociais de natal discutindo A Carta de Natal

Realizada em março desse ano a Carta de Natal apontava para a necessidade de uma virada nos investimentos públicos que deveriam privilegiar os mais vulneráveis.
Não creio em coincidências, mas em sincronicidade. Penso que nos movíamos na Carta para algo maior que não sabíamos. De fato teremos que rediscutir os rumos e o que fazer com os cerca de 300 milhões de reais destinados à Roberto Freire.
O sucesso da experiência de Mãe Luiza, os números da violência e a Carta de Natal apontam um caminho: é melhor construir 100 obras de 3 milhões do que uma obra de 300 milhões.

Foto: Verner Monteiro

Essa é a discussão do momento, é a luta do momento e ela é estratégica. Se conseguirmos em Natal inverter essa lógica nefasta de investir muito em obras faraônicas e construirmos uma robusta infraestrutura de equipamentos sociais que dignifiquem a vida da população seremos o modelo para aquele Brasil que sonha com inclusão, justiça social e dignidade.
A cidade não pode perder essa oportunidade.
As fotos do arquiteto Verner Monteiro que, valem mais do que mil palavras, ajudam a entender porque as coisas podem mudar.

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